Palocci escancara o “interesse corrupto” dos governos do PT

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Palocci detalhou à Justiça como o PT, com as bênçãos de Lula, montou uma quadrilha para assaltar a Petrobras e dividir as propinas entre aliados

Principal ministro petista diz que a desonestidade permeou governo do PT

*Por Ary Filgueira e Rudolfo Lago

Nem as acusações de Bolsonaro nas redes sociais e muito menos os ataques de Geraldo Alckmin no seu programa eleitoral na TV. O maior petardo dos últimos dias contra a candidatura do petista Fernando Haddad à Presidência veio pelas palavras sinceras de um dos mais poderosos ex-companheiros de partido, que completou 58 anos nesta quinta-feira 4 – mais da metade deles dedicados ao PT: Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma Rousseff. Ele está preso há dois anos em Curitiba (PR) e fechou acordo de delação premiada com o propósito de reduzir sua pena e até ser posto em liberdade. O trecho tornado público pelo juiz Sérgio Moro reúne apenas 11 páginas, mas é devastador na sua capacidade de resumir como os governos de Lula e de Dilma, o PT e os demais partidos da base, lotearam a Petrobras para transformar a estatal numa usina de propinas, tanto para financiar projetos eleitorais, como também para propiciar o enriquecimento ilícito dos dirigentes petistas.

“Havia um interesse nacional e um interesse corrupto”, resume Palocci na sua delação, ao explicar como se davam as motivações internas do governo petista. Palocci usa essa frase ao explicar por que Lula adotou para a exploração do pré-sal um modelo que privilegiava as empresas nacionais e dificultava a entrada de parceiros internacionais. Segundo Palocci, era mais fácil convencer as grandes empreiteiras, como OAS, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa a financiarem os esquemas eleitorais dos partidos do que tentar isso com empresas estrangeiras.

Na sua delação, Palocci detalha como foi engendrado o aparelhamento nos governos Lula e Dilma das estatais, sobretudo a Petrobras. Segundo o ex-ministro petista, logo no início do primeiro governo do ex-presidente hoje preso na sede da Polícia Federal em Curitiba (na mesma unidade onde Palocci está, mas em outra ala), houve uma divisão quanto à forma de relacionamento com os partidos de sustentação do PT. Formou-se um “grupo programático”, onde o próprio Palocci estava incluído, que defendia que o governo centrasse seus esforços na aprovação de reformas estruturantes em discussão no Congresso, com o apoio dos grandes partidos, entre eles o PMDB e até o PSDB. Em contrapartida, formou-se o “grupo pragmático”, sob liderança do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que defendia alianças com pequenos partidos para a aprovação de projetos do governo a qualquer custo. Segundo Palocci, o segundo grupo foi ganhando espaço. Manter a base tornou-se algo “mais caro”, segundo explica Palocci. “Não era divisão entre honestidade e desonestidade. Houve desonestidade em toda a estrutura do PT”.


“Havendo ação penal em andamento, a publicidade se impõe. Não há mais riscos às investigações” – Sergio Moro, juiz da 13ª Vara Federal do Paraná (Crédito:Suamy Beydoun/AGIF)

A divisão da propina

A partir da decisão de que o governo seguiria pela via “pragmática”, os cargos estratégicos foram loteados pelos partidos de acordo com sua capacidade de “gerar caixa”. Nesse sentido, a Petrobras virou a cereja do bolo desses grupos que dilapidaram os cofres públicos. Segundo Palocci, todos os contratos de publicidade, por exemplo, geravam um butim de 3% para o PT. Quem operava isso, de acordo com Palocci, era a Gerência Executiva de Comunicação Institucional da Petrobras, comandada por Wilson Santarosa, líder sindical dos petroleiros do PT de Campinas, ligado ao próprio Lula. O PT tinha ainda Renato Duque na Diretoria de Serviços. Era uma indicação de empresários ligados a José Dirceu. “Ali, houve o posicionamento de importante peça de operação financeira do PT junto à Petrobras”, relata o ex-ministro.

Já o PP, partido com o maior número de políticos denunciados na Lava Jato, tinha Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento. Nestor Cerveró, primeiro como diretor Internacional e depois como diretor financeiro da BR Distribuidora, era nome do ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS), na estatal. Como o PMDB não contava com ninguém no esquema, pressionou Lula. E acabou conseguindo colocar na Diretoria Internacional Jorge Zelada. Palocci conta que o PMDB chegou com tanta fome aos cofres que forjou, de saída, um contrato de US$ 800 milhões com a Odebrecht, obtendo “uma larga margem para propina”. Cinco por cento da bolada iria para o partido, US$ 40 milhões. “Era tamanha a ilicitude que logo o valor do contrato foi reduzido de US$ 800 milhões para US$ 300 milhões”, conta Palocci.

Palocci afirma em seu depoimento que Lula não apenas sabia do esquema como nomeou os principais agentes da corrupção. Ele narra um episódio em que o presidente o chamou ao Palácio da Alvorada, em fevereiro de 2007, logo após tomar posse do segundo mandato. Esbravejando, pareceu indignado com informações que tinham chegado a ele sobre ilicitudes de Duque e Paulo Roberto Costa. Perguntou a Palocci, então, quem tinha indicado os dois. O ex-ministro respondeu que “o responsável era o próprio Lula”. E reforçou que era evidente que o PP não tinha projeto algum para Petrobras que não fosse “arrecadar dinheiro”.

Em outro trecho da delação, Palocci conta um episódio em que Lula tornou explícito seu envolvimento na máquina de desvios. Foi uma reunião na biblioteca do Palácio do Alvorada já nas proximidades do início da campanha de Dilma Rousseff para sucedê-lo. Estavam na reunião Lula, Palocci, Dilma e o então presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Lula pediu a Gabrielli que encomendasse a construção de 40 sondas de exploração de petróleo “para garantir o futuro político do país e do PT com a eleição de Dilma Rousseff”. E determinou a Palocci que gerenciasse os recursos ilícitos que seriam gerados para o devido emprego na campanha da petista. Segundo ele, as campanhas presidenciais do PT custaram em 2010 e 2014, aproximadamente R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, respectivamente, muitas vezes acima do valor declarado ao TSE. Ou seja, dinheiro sujo da corrupção.

As 11 páginas da delação divulgadas são consideradas apenas um aperitivo do que Palocci tem a apresentar. Na sua edição de 30 de maio, ISTOÉ adiantou os termos da delação e seu potencial explosivo, com o envolvimento dos ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas petistas. Tendo a delação como munição eleitoral, a candidatura de Jair Bolsonaro estuda agora usar a seguinte frase na sua propaganda de segundo turno: “Se Lula é Haddad, e Lula é corrupto, por que votar nele?” Como Palocci fez parte do círculo mais íntimo de poder nos governos petistas, o que ele já contou à Justiça pode ajudar a responder à pergunta do ex-capitão.

Fonte: Revista IstoÉ (Matéria da revista IstoÉ – Edição Nº 2546 05/out/18 – istoe.com.br)

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