Espelho, espelho meu

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CAROL BISPO

Você já se olhou no espelho e teve a sensação de não se reconhecer? Ou até se reconheceu, mas não gostou do que viu? Esse tipo de desconexão é mais comum do que parece e, quase sempre, não está ligado apenas à aparência, mas, sim, ao que sentimos por dentro, ao quanto nos cuidamos e ao quanto nos amamos de verdade.

Autocuidado e amor-próprio são palavras repetidas à exaustão, mas nem sempre compreendidas. Cuidar de si não se resume a rituais caros ou fórmulas prontas. Trata-se de escolhas conscientes, presença, escuta do corpo e da mente. Muitas pessoas rejeitam a própria imagem não por estarem “feias”, mas por se sentirem desalinhadas da própria essência.

E essa dor começa cedo. Segundo a UNICEF (2021), três em cada cinco adolescentes já sofreram bullying por causa da aparência. Mais tarde, essa dor se amplia: o IPEA (2023) revela que 89% das mulheres brasileiras já deixaram de fazer algo por insegurança com o próprio corpo. Entre a população negra, 76% relatam dificuldade em se reconhecer nos padrões de beleza midiáticos (FBSP, 2022).

É nesse contexto que meu trabalho se insere. Muitas pessoas chegam até mim em busca de uma mudança na imagem. Mas, na prática, o que elas querem é reconexão com quem são. E, às vezes, tudo começa com um corte de cabelo que acolhe a identidade, com um novo olhar sobre suas formas, com a coragem de abandonar referências que não dizem nada sobre si.

Por meio do visagismo, que une estética, temperamento e arquétipo, construímos caminhos para que imagem e essência se encontrem. Não se trata de tendência, mas de pertencimento. E, quando esse alinhamento acontece, a autoestima não precisa ser forçada: ela floresce naturalmente.

A boa notícia? O autocuidado funciona. Segundo pesquisa Globo/Datafolha (2024), 78% das pessoas que praticam autocuidado diário relatam melhora significativa na autoestima. E um estudo da Universidade de São Paulo (2023) apontou que 94% dos participantes tiveram melhora na autoimagem após alinharem seu estilo pessoal ao que realmente são.

Mais do que vaidade, cuidar de si é um ato de saúde emocional, social e até profissional. A neurociência confirma: em apenas 21 dias, práticas conscientes de autocuidado já alteram a forma como o cérebro se percebe (Journal of Positive Psychology, 2023). E uma autoestima elevada impacta até a produtividade, com aumento de até 31%.

Por isso, minha mensagem é simples, mas necessária: comece.

Com o que for possível hoje. Com o tempo que você tem. Com as ferramentas que você já carrega. Quando você se trata com amor, tudo ao redor começa a mudar. Inclusive o que você vê no espelho.

CAROL BISPO é visagista, especialista em cabelos crespos e cacheados, formanda em Psicologia e idealizadora do método Cabelo do Dia Seguinte. Instagram: @carolbispovisagismo.

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