Com sistema digital interconectado, não há razão para moeda única, diz Campos Neto

A adoção de uma moeda única para facilitar as transações internacionais é algo desnecessário se for possível interligar sistemas de pagamento de vários países, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante palestra no Brazil Payments Forum, promovido pelo Banco J.P. Morgan, em São Paulo.

Segundo ele, ainda há espaço para crescer em termos de pagamentos internacionais, dado o avanço das tecnologias de pagamentos digitais. “Nos pagamentos transfronteiriços se avançou pouco”, disse ele.

Campos Neto afirmou que a digitalização dos pagamentos e a maior interligação entre os sistemas de pagamento, na prática, é uma solução mais eficiente para integrar os mercados do que a criação de uma moeda única – política adotada na zona do euro e que vem sendo defendida por membros do governo brasileiro para operações no Mercosul.

“Quando você registra o benefício macroeconômico citado por pessoas que advogavam por este sistema no passado, grande parte está ligada a eficiência de pagamento, do comércio, instalação da cadeia produtiva em diversos países”, disse Campos Neto.

Ele acrescentou que criar uma moeda única significaria abrir mão do controle da política monetária para obter estes benefícios, e que isso seria desnecessário diante das possibilidades técnicas trazidas pelos avanços tecnológicos, que permitiriam conectar mercados com moedas distintas.

“Quando se pensa que pessoas estão falando em moeda única, quando podem fazer sistema digital interconectado em tempo real: por quê, se isso traz todos os benefícios da moeda única?”, acrescentou o presidente do BC.

Digitalização e velocidade do processamento de dados

De acordo com Campos Neto, o aumento da digitalização e da capacidade e velocidade do processamento de dados resultou em aumento da produtividade, mas em menor grau do que se previa.

“Tem um paradigma da produtividade”, disse ele, ao comentar o avanço da digitalização e a introdução da inteligência artificial nas operações das empresas. “Será que a gente está medindo produtividade de forma correta? Nos Estados Unidos houve idas e voltas de produtividade, mas está num nível não muito distante da média dos últimos anos. Em alguns casos cresceu, mas não muito”, disse Campos Neto.

Segundo ele, um dos estudos feitos sobre o tema mostra que as empresas que tiveram mais sucesso em aumentar a produtividade investindo em inteligência artificial colocaram a tecnologia como algo auxiliar ao trabalho dos funcionários, em vez de usar o recurso para substituir mão de obra.

O presidente do BC ressaltou que o avanço da tecnologia e o crescimento do uso da inteligência artificial está atraindo investimentos para o setor, mas que há representantes da indústria sugerindo que pode estar havendo um “exagero” na valorização de companhias que atuam nesta área.

“Vejo muita gente ligada à tecnologia dizendo que isso já está em preços exagerados, mas é fato que inovações vão acontecendo. Pano de fundo é mais velocidade, mais computação, mais dados e inteligência artificial”, acrescentou Campos Neto.