James Gunn estreia seu novo universo cinematográfico da DC com um “Superman” repleto de ambição — talvez até demais. O filme tenta ser uma ode ao super-herói mais icônico da cultura pop, mas acaba mergulhando em uma enxurrada de personagens e subtramas que diluem a força do protagonista. Lex Luthor, Lois Lane, Lanterna Verde, Mulher-Gavião, Metamorfo, Krypto, Supergirl, Senhor Incrível… É tanta gente que, por vezes, o próprio Superman parece um coadjuvante de sua própria história.
O humor característico de Gunn, que fez sucesso em Guardiões da Galáxia, marca forte presença, especialmente através de Krypto, o supercão. O mascote heróico é responsável por algumas das melhores piadas e momentos mais carismáticos da trama, sendo, curiosamente, um dos grandes motores da popularidade do filme. Gunn sabe criar personagens adoráveis, até mesmo quando eles não são humanos.
David Corenswet, o novo Homem de Aço, entrega uma performance magnética. Sua beleza e porte heróico são aliados a um carisma que equilibra a doçura do Clark Kent e a imponência do Superman. Já Nicholas Hoult, no papel de Lex Luthor, traz a inteligência fria esperada do vilão, mas sofre com a limitação de um roteiro que o prende mais ao controle estratégico do que à ação direta (o que pode frustrar quem esperava um confronto físico mais impactante).
Entre os vilões, quem rouba a cena é A Engenheira, uma antagonista que mistura tecnologia e organicidade de forma visualmente impressionante, lembrando uma versão alternativa de Venom. Ela é uma das poucas personagens que consegue equilibrar presença, e ameaça real diante de tantos rostos conhecidos competindo por tempo de tela. A ação é constante, e, por vezes, empolgante, mas esbarra em um problema técnico difícil de ignorar: os efeitos visuais. O CGI, essencial para dar vida ao universo de Superman, é executado com excelência na inserção de Krypto. Porém, decepciona em algumas sequências, comprometendo a imersão.
Um destaque à parte vai para a ótima versão brasileira, com direção de dublagem de Andrea Murucci, realizada no Estúdio Delart Rio. Fugindo do caminho previsível, a Warner Bros optou por não escalar Guilherme Briggs , voz icônica do herói por mais de duas décadas, talvez por considerá-lo mais maduro para o Superman jovem de Corenswet. A escolha de Diego Lima se mostrou certeira, trazendo frescor ao personagem e sendo muito bem acompanhado por Natália Alves (Lois Lane) e Rodrigo Antas (Lex Luthor). Entre os coadjuvantes, Pamella Rodrigues brilha como Mulher-Gavião, e Taís Feijó entrega uma ótima Engenheira. Murucci ainda apostou em nomes confiáveis como Élcio Romar, Élida L’Astorina, Eduardo Borgerth e Jorge Vasconcellos; e conduziu o resto do jovem e extenso elenco com mão firme, e evitando exageros, cacos ou localismos que pudessem desviar a atenção do enredo principal.
Apesar do excesso de personagens e de algumas quedas visuais, “Superman” é diversão garantida. Gunn oferece uma nova leitura do herói que mistura irreverência e leveza, com um elenco afiado — tanto no set quanto no estúdio de dublagem — e cenas memoráveis. Pode não ser o filme definitivo do Superman, mas é um primeiro passo corajoso para uma nova fase do estúdio, e mostra que mesmo com superpoderes, é preciso equilíbrio para salvar o mundo… E contar boas histórias.
Leo Pinheiro é Diretor de Cinema e Jornalista, com passagem por revistas como Veja, Isto É, Exame, e Viver Brasil, onde atuou como correspondente internacional, em Nova lorque