As eleições de 2020 para as Prefeituras e Câmaras de Vereadores devem eleger mais mulheres em 2020

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O ano de 2020 poderá ser lembrado de várias formas diferentes. A começar pela pandemia de covid-19, que fez milhares de vítimas e virou a economia do planeta de pernas para o ar. Mas também poderá ser marcado pela ampliação do poder feminino em espaços antes dominados por homens. Duas eleições previstas para novembro poderão confirmar se o ano será definitivamente delas: uma aqui no Brasil, que elegerá prefeitos e vereadores de 5.570 municípios, e outra que definirá o próximo presidente da maior potência do planeta. Em Mato Grosso, são visíveis o aumento de mulheres que se lançaram candidatas a prefeitas, vice-prefeitas e vereadoras nos 141 municípios do estado.  

NO BRASIL

Nas eleições municipais daqui, com o 1º turno previsto para 15 de novembro, as mulheres também estão em alta, de acordo com o cientista político Antônio Lavareda.

A conclusão de Lavareda leva em conta o bom desempenho de 8 candidatas a prefeita de capitais. Duas delas lideram a disputa. É o caso de Cinthia Ribeiro, em Palmas (TO); e Manuela D’Ávila, em Porto Alegre (RS). Outras 6 candidatas aparecem na 2ª colocação.

Há quem possa dizer que o percentual de 18% das mulheres no pelotão da frente é ainda bastante tímido entre os candidatos homens. Mas surpreendente, se levado em consideração que só uma mulher foi eleita prefeita de capital nas eleições de 2016: Teresa Surita, em Boa Vista (RR). Reflexo, segundo Lavareda, da combinação das cotas de gênero e de recursos do Fundo Eleitoral para a candidaturas femininas.

Em 2018, primeiro pleito em que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) garantiu a destinação de 30% do financiamento público de campanha para candidaturas femininas, esse suporte financeiro teve reflexos no resultado da própria eleição. Entre eles, a eleição da maior bancada feminina da história da Câmara dos Deputados.

Essa, no entanto, não é uma guerra dos sexos. Mas uma busca por equilíbrio de forças entre os 2 sexos.

A despeito do maior nível de escolaridade que elas apresentam frente aos homens, as mulheres acabam em desvantagem em diferentes áreas, seja no setor público, como no privado.

DESIGUALDADE

Uma pesquisa divulgada pela plataforma de recrutamento Catho, nesta semana, mostra por exemplo que mulheres ainda ganham menos do que os homens, independentemente da posição hierárquica que ocupam ou do grau de escolaridade.
O levantamento constatou que mulheres com maior nível de formação chegam a ganhar simplesmente a metade do salário de colegas do sexo oposto. Ou seja, o ano poderá até ser delas, mas o caminho pela frente ainda será longo.

A crise sanitária, tanto no Brasil como em outros países, encontrou nas mulheres sua principal força de trabalho para atender vítimas da covid-19, nos hospitais e em casa. Mas elas também se destacaram como chefes de Estado pelos resultados significativamente melhores na resposta ao coronavírus. Foi o caso de Angela Merkel, da Alemanha; Jacinda Ardern, da Nova Zelândia; Mette Frederiksen, da Dinamarca; Tsai Ing-wen, de Taiwan; e Sanna Marin, da Finlândia.

Com 4 mulheres entre os 11 premiados neste ano, 2020 entra para a história com o 2º maior número de pessoas do sexo feminino já premiadas com o Nobel. Entre as vencedoras, Andrea Ghez, que dividiu o Nobel de Física com 2 homens. Além de Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, que levaram o Nobel de Química, e a poeta norte-americana Louise Glück, o de Literatura.

NA POLÍTICA

Nos Estados Unidos, a chapa “dos sonhos” do Partido Democrata –como chegou a definir o congressista Lacy Clay, de Missouri, antes mesmo dela se tornar realidade– poderá eleger pela 1ª vez na história norte-americana uma mulher como vice-presidente da República no próximo dia 3 de novembro.

A senadora Kamala Harris já havia feito história antes, como 1ª negra procuradora-geral da Califórnia e como a 1ª mulher com ascendência asiática – e 2ª negra – a se tornar senadora nos 240 anos da história da democracia norte-americana.

Na semana passada, ela demonstrou o seu peso político na chapa encabeçada por Joe Biden, que foi vice de Barack Obama, ao se sobressair em debate travado com o vice de Donald Trump, Mike Pence.

Mesmo tendo sido interrompida em suas falas por pelo menos 16 vezes –embora tenha tentado fazer o mesmo em 9 oportunidades–, Kamala Harris chamou a atenção da mídia e, certamente, do eleitorado norte-americano pela firmeza e suavidade com que reagiu a Pence: “Senhor vice-presidente, eu ainda estou falando!”, repetiu diversas vezes, sem se intimidar.

Aliás, essa é uma característica que a senadora da Califórnia diz ter herdado da mãe, a indiana Shyamala Gopalan, uma pesquisadora de câncer de mama que se mudou de Nova Delhi para Berkeley (Califórnia, EUA), em 1958. Ao participar de protestos contra a Guerra no Vietnã, a pesquisadora conheceu o jamaicano Donald Harris, pai de Kamala Harris, de quem se separou quando Kamala tinha 7 anos e a irmã Maya Lakshmi, hoje advogada e ativista de direitos humanos, tinha 3.

Quando lançou seu nome para a disputa à Casa Branca, concorrendo pela vaga com Biden, Kamala Harris lembrou a frase ouvida da mãe: “Não deixem que as pessoas lhe digam quem vocês são. São vocês que devem dizer às pessoas quem vocês são”. No debate com Pence, a senadora mostrou que aprendeu bem essa lição.

Para Nadia E. Brown, professora associada de Ciência Política e Estudos Afro-americanos na Purdue University, em West Lafayette, Indiana (EUA), a eventual eleição de Kamala Harris promete trazer para o centro de debates do país grupos antes marginalizados. Isso tendo em vista a história de origem da senadora, que ela define como “inclusiva e diversa”, o que refletiria as mudanças demográficas de uma América.

 

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