Sema alerta para riscos de soltura de outras espécies de peixes no Rio Manso

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Um parecer técnico emitido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) aponta que a proposta de soltura de peixes no reservatório do Manso é ineficaz contra a presença de piranhas no local, além de trazer riscos à fauna nativa e ao meio ambiente.Ao contrário do que diz a justificativa do Projeto de Lei nº 717/2021, em tramitação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, e que cita o documento da Sema-MT, o órgão ambiental é desfavorável a um pedido de “peixamento” do lago e aponta medidas mais adequadas para lidar com a presença da espécie.Conforme o Parecer Técnico nº 05/CFRP/SUBI0/SEMA/2021, de março de 2021, o repovoamento ou estocagem com espécies migradoras apresentam resultados negativos na maioria das tentativas conhecidas.Cita ainda que, entre os impactos associados ao peixamento, estão: a introdução de espécies não nativas; disseminação de patógenos e parasitas; efeitos deletérios na qualidade genética de matrizes e descendentes e impactos na estrutura e funcionamento de comunidades.O relatório destaca ainda que a variabilidade genética dos alevinos, quando adquiridos em mercado comum, não é adequada, em razão da baixa qualidade genética, já que os produtores têm o objetivo apenas de produzir proteína e a reprodução é feita de algumas matrizes. Outro risco da prática é introduzir nas populações nativas um gene deletério e que causa a redução na taxa de sobrevivência e reprodução da espécie.Os especialistas da Sema-MT relatam que a proliferação de piranhas no lago não se deu pela ausência de espécies predadoras, mas pelas profundas mudanças no local após a implantação do reservatório e que propiciam a troca natural de espécies.O local, que antes era de correntezas, foi transformado em um ecossistema lêntico, que consiste em um ambiente aquático de água parada. Nessa troca, peixes migradores como dourado, piraputanga, grandes bagres, entre outros, são substituídos naturalmente pelas espécies aptas ao novo ambiente e, entre elas, as piranhas.As espécies migradoras tendem a evitar ambientes como os reservatórios e são rapidamente substituídos por espécies adaptadas. Espécies como a piranha, pequenos lambaris e sardinha tendem a colonizar esse novo ambiente onde conseguem cumprir todo o seu ciclo reprodutivo.Recomendações da SemaA Sema não recomenda a soltura de alevinos no Lago do Manso e sim que seja realizado o uso de telas metálicas para cercar as áreas de banho. Também é importante a educação ambiental para que os usuários não despejem restos de alimentos para não atrair os animais, bem como não entrem na água com ferimentos.Para alertar a população, a Sema-MT e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec) instalaram placas informativas orientando os banhistas a não deixarem que alimentos entrem em contato com a água. Também foram distribuídos folders mostrando como aproveitar o Lago do Manso em segurança.Outra medida apontada é a remoção dos bancos de macrófitas (plantas aquáticas que serviriam para propiciar a reprodução das piranhas). Esse controle já é realizado por Furnas de modo permanente para permitir o aproveitamento do empreendimento.O órgão ambiental estadual mapeou os ataques de piranhas por meio de um formulário, em que as vítimas puderam relatar a localização, a gravidade do incidente, e a frequência. Houve 23 relatos, sendo duas em 2021 e uma em 2022. O formulário pode ser acessado pelo site da Sema.Soltura apenas com autorizaçãoConforme o Decreto Estadual nº 337/2019, a soltura de alevinos em corpos hídricos em Mato Grosso, visando o peixamento de rios e lagos, só poderá ser feita com autorização emitida pela Sema-MT. O interessado deve protocolar a Solicitação Prévia de Peixamento junto à Coordenadoria de Fauna e Recursos Pesqueiros da Sema com três meses de antecedência.A recomendação no artigo 4º do documento é de que “os alevinos devem ser de espécies oriundas da mesma bacia hidrográfica onde será feito o peixamento e produzidos em estabelecimento licenciado para a produção de alevinos”. O processo de soltura precisa de um responsável técnico com ART.

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