Soja livre

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César Borges

O Brasil produz atualmente quase um milhão de hectares de soja não transgênica, ou seja, aquela que não é geneticamente modificada – também chamada de soja livre. Ainda assim, é soja com alta tecnologia embarcada em suas sementes e que tem um grande mercado mundial para conquistar.

A soja livre brasileira é vendida, principalmente, para a Europa. Lá, consumidores exigem de redes varejistas produtos com selo de não-transgênico, como, por exemplo, nos ovos, no leite e em grande parte do frango vendido nas prateleiras dos supermercados.

Você pode se perguntar o que estes produtos têm a ver com soja. Ora, os animais são alimentados com ração que tem a soja convencional como ingrediente. Entretanto, são selos que atestam a origem da soja, mas não é lei na maioria dos países europeus.

A Noruega é a única nação que exige por força da legislação a entrada apenas de soja não-transgênica. Lá, a indústria de salmão consome o grão convencional em forma de Concentrado Proteico de Soja (SPC, na sigla em inglês). Este produto poderá ser usado em larga escala, em breve, na indústria de suínos como ração para leitões.

Mais uma porta que se abre para a soja livre de transgenia brasileira.

Entretanto, o que os europeus esperam dos produtores rurais brasileiros – assim com qualquer consumidor espera de seu fornecedor, é a constância na entrega dos produtos.

Tivemos, há pouco mais de uma década, sérios problemas de fornecimento e desarticulação da cadeia da soja livre. Mas o Instituto Soja Livre surgiu como uma associação que agrega entusiastas da soja não-transgênica e enxerga o futuro promissor e sustentável desta cadeia.

Em breve, poderemos recuperar mercados importantes como França, Inglaterra e Bélgica. Safra após safra, os produtores rurais brasileiros entendem o nicho de mercado e percebem a importância da soja convencional para o mundo.

Para a Europa, soja sustentável é a soja não-transgênica. E estamos falando de uma população de quase 750 milhões de pessoas.

Com quase o dobro de população, a China também está no foco da produção brasileira de soja livre de transgenia. Há, obviamente, um grande mercado consumidor para a dieta humana que é atendida pela produção local. Porém, em breve, os agricultores chineses não conseguirão mais produzir para o mercado doméstico e haverá necessidade de importar soja livre.

O Japão também demonstra interesse na soja não-transgênica brasileira, com conversas bem alinhavadas sobre pesquisa e produção. O país, atualmente, tem demanda de importação de aproximadamente 700 mil toneladas e é abastecido, prioritariamente, pelos EUA e Canadá.

Nosso principal concorrente são os Estados Unidos, que atualmente tem relações estremecidas com o governo chinês. Para o Brasil, há necessidade de um esforço governamental para regulamentar junto aos chineses a importação de nossa soja não-transgênica.

Obviamente, o Brasil não é único nem o maior produtor mundial de soja livre. A Ucrânia é um concorrente de peso, mas no momento sofre com as consequências da guerra contra a Rússia, com a logística comprometida para a entrega de produtos.

A Índia também é um forte concorrente que exporta o farelo pronto para a Europa, porém, as fazendas do país são pequenas e o processo de produção é primário, o que torna o mercado irregular.

Há que se atentar para a África, que está recebendo investimentos chineses em infraestrutura para tornar viável o mercado. E ainda há a Rússia que segue entregando derivados de soja para a Europa.

A soja convencional brasileira tem um grande mercado a ser conquistado nos próximos anos. O futuro é sustentável e temos todas as ferramentas para oferecer aos consumidores do mundo um produto que atende todas as demandas dos consumidores mais exigentes.

Respeito às rígidas legislações brasileiras e às exigências de rastreabilidade e certificações reconhecidas mundialmente, tecnologia e pesquisa fazem de nós, produtores rurais do país, preparados e no caminho certo para atender à crescente demanda mundial.

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