Tratamento das doenças autoimunes

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Luiz Sérgio Guedes Barbosa

O Prêmio Nobel de Medicina de 2025 reconheceu cientistas que decifraram mecanismos-chave da tolerância imunológica periférica — ou seja, como o sistema imune aprende a diferenciar o que deve proteger do que deve deixar em paz. O sistema imunológico, que normalmente atua como o guardião do corpo contra vírus, bactérias e células anômalas, às vezes, por falhas genéticas ou ambientais, deixa de reconhecer o próprio organismo como “amigo”. Com isso, passa a atacá-lo — é quando surgem as chamadas doenças autoimunes. A descoberta premiada aprofunda esse entendimento e abre perspectivas reais para um controle mais preciso, duradouro e menos tóxico dessas condições.

O modelo atual e o salto conceitual

Atualmente, o tratamento das doenças autoimunes é focado nas consequências da desregulação imunológica, não na sua causa. Quando o sistema imune se desorienta, ele desencadeia um processo inflamatório crônico, que é hoje o alvo principal da maioria das intervenções médicas. Utilizamos medicamentos imunossupressores, biológicos e corticoides com importantes efeitos terapêuticos, mas também efeitos colaterais significativos. A revolução que se abre com as pesquisas premiadas está em outro plano: a possibilidade de corrigir o erro de origem — seja ele genético, celular ou funcional — que impede o sistema imune de se autorregular. Isso significa, na prática, impedir que o processo inflamatório se arme, em vez de tratá-lo depois que já está em curso.

O futuro chegando: precisão, reprogramação, leveza terapêutica

Com base nessas descobertas, poderemos assistir em pouco tempo ao surgimento de novos modelos terapêuticos: imunoterapias celulares, medicamentos-alvo mais específicos, e até estratégias de reprogramação genética e imunológica. O foco deixa de ser apagar o incêndio e passa a ser corrigir o erro no projeto elétrico que causa o curto-circuito. Essa transição não apenas eleva a precisão terapêutica, como também reduz a toxicidade dos tratamentos — algo essencial para quem convive com doenças crônicas ao longo da vida.

Esperança com precisão e protagonismo

É um momento de esperança concreta: a possibilidade de controlar as doenças autoimunes com mais leveza e, em muitos casos, vislumbrar a tão sonhada cura — especialmente à medida que as terapias genéticas se tornarem mais precisas e personalizadas. Mas nenhum avanço técnico substitui o papel ativo do paciente. Mesmo com tratamentos mais sofisticados, a participação, o protagonismo e o engajamento de quem convive com a doença continuam sendo fundamentais. Entender o diagnóstico, seguir o plano terapêutico e construir, junto à equipe médica, uma jornada de cuidado individualizado será sempre insubstituível.

Luiz Sérgio Guedes Barbosa é  Médico reumatologista, professor e pesquisador clínico

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