Quatro passos sobre o Autismo

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Larissa de Oliveira e Ferreira

O mês de abril é marcado pelo movimento Abril Azul, para a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A campanha nasceu com a proposta de difundir para a população informações corretas sobre o autismo e, assim, reduzir a discriminação e o preconceito. Para que se possa compreender um pouco mais sobre essa síndrome que, estima-se, afeta mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, o primeiro passo é saber: autismo não é doença.

Segundo dados do IBGE, com base na população de 200 milhões de habitantes no Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões (10%) da população estaria no espectro autista. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC – Center of Diseases Control and Prevention), nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 1 em cada 44 crianças têm diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Infelizmente, os dados específicos sobre o aumento de diagnósticos de autismo no Brasil podem ser mais difíceis de encontrar devido a variações regionais e limitações nos levantamentos estatísticos. No entanto, estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas vivem com autismo no Brasil. Dados do CDC mostram que até 2% da população mundial têm o transtorno.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio caracterizado por um desenvolvimento neurológico atípico, com prevalência maior no sexo masculino. O espectro é muito amplo, mas em geral, os principais sintomas são, déficits persistentes na comunicação e interação social, assim como padrões restritos e repetitivos de comportamentos. Os sinais, muitas vezes (nem sempre) podem ser percebidos já nos primeiros meses de vida. O diagnóstico, porém, costuma ser estabelecido entre 2 e 3 anos.

Existem vários graus de autismo. Para efeito de diagnóstico, ele é classificado em três níveis, estabelecidos de acordo com intensidade dos sintomas e da necessidade de suporte. Pessoas com autismo nível 1 (leve) requerem um suporte mínimo em suas atividades cotidianas, podem ser capazes de se comunicar verbalmente e de manter relacionamentos, sendo, porém, difícil para elas entreter uma conversa mais longa. Pessoas diagnosticadas com o autismo nível 2 (moderado) costumam ter mais dificuldade com as habilidades e situações sociais e comunicação verbal mais restrita, conseguindo estabelecer apenas diálogos curtos focados em temas específicos. Assim, precisam de maior suporte para as atividades sociais. Já as pessoas com autismo nível 3 (severo), apresentam dificuldade significativa na comunicação e nas habilidades sociais, além de comportamentos restritivos e repetitivos que atrapalham seu funcionamento independente nas atividades cotidianas.

Um segundo passo importante para compreender melhor o autismo é reconhecer seus sinais. O autismo de nível 1 é mais difícil de ser detectado precocemente. Embora diversas atividades do cotidiano possam ficar comprometidas por uma tendência ao isolamento e a dificuldade de flexibilidade com ordens e regras, os portadores de TEA nível 1 tendem a alcançar a independência facilmente e não precisam de um ambiente adaptado. Os autistas do nível 2 (moderado) têm a tendência de apresentar mais alterações comportamentais, como a agressividade, seja consigo ou com os outros, devido ao estresse causado por não conseguirem um diálogo efetivo com as pessoas ao redor. Dependem muito mais de uma outra pessoa para mediar sua relação com o mundo e, portanto, precisam de um maior apoio. O autista severo, nível 3, é completamente dependente de um adulto para realizar as atividades da vida diária. Nesse caso se trata de alguém que não tem autonomia para comer ou ir ao banheiro e outros hábitos de higiene.

Independente do nível do autismo, tanto o diagnóstico quanto os tratamentos envolvem uma equipe interdisciplinar, com a intervenção de médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos, além da imprescindível orientação aos pais ou cuidadores.

Uma vez que temos esse conhecimento, como um terceiro passo, é fundamental desconstruir falsas informações sobre o TEA. Dentre elas a que todo autista é um gênio ou que um autista não pode trabalhar ou ter um convívio social. A depender do nível, a pessoa poderá sim ter amigos, se casar, trabalhar, ir ao parque, ao shopping, fazer compras e ter convívio social, porém com peculiaridades de comportamento que inicialmente podem parecer estranhas, mas, com um mínimo de conhecimento sobre o TEA, possíveis de serem identificadas.

O quarto passo, e por que não dizer o principal, é o respeito. Se você percebe que uma pessoa se intimida ao conversar com você, tem dificuldade em olhar em seus olhos, não gosta de toque, não avance o sinal, compreenda. Mesmo que você seja uma pessoa “touch screen”, que gosta de tocar nas outras enquanto conversa, entenda que isso, para um autista, pode ser extremamente invasivo. Respeite. Respeite também a dificuldade que os autistas têm com barulhos altos, muita iluminação e os excessos de forma geral. Para finalizar, o conhecimento e o respeito são sempre as melhores ferramentas para se conviver com pessoas sejam elas típicas ou atípicas.

Larissa de Oliveira e Ferreira, doutora e coordenadora de psicologia da Estácio

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